terça-feira, 11 de outubro de 2011

Platão, Kant, e Bharatanatyam

Estive lendo um livro sobre filosofia da música. O primeiro capítulo olha para a estética grega, como haveria de ser, por meio de Platão. O segundo capítulo me está sendo muito mais difícil e se debruça sobre a visão de Kant sobre a arte. .... depois escrevo sobre minhas impressões desse livro.

O vídeo que me inspirou hoje foi esse. Me fez pensar sobre a relação da arte com idealismo, idealização, imaginação, perfeição, exatidão, e eternidade (e feminino), tudo aqui inserido em sons, cores e movimentos corporais, como se tentasse nos provar que a realidade é tão boa e tão fluida quanto a terra dos sonhos.
Savitha Sastry - Bharatanatyam


Também linkei aqui uma bela demonstração de Odissi, uma outra forma de dança indiana, abundantemente enriquecida pelas tornozeleiras com guizos.



Por outro lado, muito diferentemente também escutei este outro vídeo de jazz e me lembrei da relação da arte com o caos, o inventivo, o novo, o aleatório, o bruto, o visceral e o efêmero (e masculino).

Herbie Hancock e Bob Mcferrin - Oleo de Sonny Rollins





.... e tudo se completa como num ying yang pois um não existe sem o outro. A segurança dos movimentos da dançarina contraditoriamente revela sua insegurança perante a instabilidade da existência. Busca aquilo que sente que lhe falta. A sua repetição dos movimentos ideais indica o medo do caos, e a atração pela segurança. A estabilidade oferecida pela dançarina é o prêmio de quem a olha. Já a desenvoltura dos Jazzistas perante o Caos indica a tranquilidade e segurança que têm ante as instabilidades da existência humana. A sua busca por caos e insegurança indica a sua segurança pessoal original, ao contrário da dançarina cuja busca por ordem revela a psique temerosa pela eventual perda da perfeição. A arte, portanto, não é apenas beleza, mas também tensão. A arte, pode ser isso, e todo o seu oposto. Sua dualidade inserida em si mesma, incapturável. A música é feita da mesma carne que nos faz. Música não é feito de sons. É feita de gente, e é, portanto, tão complexa quanto.



Consigo unir estas idéia ao que li no livro "O Tao da Música" de Carlos D. Fregtman. No capítulo 2 (página 30), ele usa uma maneira muito curiosa para diferenciar Ocidente de Oriente. Compara duas imagens geométricas de pirâmide, uma delas com a pirâmide da maneira que a conhecemos, e outra a mesma de cabeça para baixo. Nesse caso sua base voltada para cima, e sua ponta na parte inferior. A primeira imagem, da pirâmide voltada pra cima e sua base firmemente assentada no chão é - explica ele muito bem - o paradigma oriental, onde a existência, o equilíbrio e a harmonia do corpo se centra no umbigo, e o foco está nos pés. No paradigma ocidental, da pirâmide invertida, o centro da existência é a mente, dentro do crânio, no topo superior. O foco ocidental está na parte de cima do corpo.

Tudo isso é complexo e talvez não soe comprovável, mas os exemplos postos aqui, eu creio, exemplificam muito essa idéia. A apresentação de indiana, especialmente a Odissi, está toda firmemente apoiada no chão, enquanto a música do grupo de jazz com Bob Mcferrin está toda centrada na mente, cabecístico, emocional porém muito intelectual, do pescoço para cima, no vôo sem as amarras da gravidade ou existência física. A pirâmide está de cabeça para baixo.

Oriente...... ocidente

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