segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Letra de Música - Humano

Ventres sorridentes
Zombam de minha solidão de marfim
Sou casa sem móveis
Janela pintada de branco
Sou estátua
Indeciso ao ponto
do mais desesperador dos silêncios

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Que loba melancolia
me solapa
com a ponta de sua pata
Me aponta a cama voadora
Onde acontece o nada
E nado endoidecido
Onde ela dormia mornamente mole
se sabendo a número dois da criação

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Eu não vim aqui de tão longe
Só para dar meia volta
Neste mundo arredondado
o alto salto foi dado
E caí, prostrado, em outra revolta

Eu vim de uma ilha partida
para reviver mais outra re-vida
neste mundo imundo e atravessado
o dito re-dito maldito ao meu lado
a esperança ja quase esquecida
querida ferida não serei curado

Eu não vim aqui por acaso
para paralisar meu atraso
trouxe três tribunais na mente
passado, futuro e presente
faltou-me dizer, do não dito,
a outra metade do infinito
E buscarei seguir o meu plano
Para que um dia eu seja humano

Eu não vim aqui de sapato
Para poder parecer mais sensato
No portão grandão da revolução
Nenhuma tranca existe de fato
E relato o meu chão florianopolitano
Para que um dia eu seja humano

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Estou certo que estas estranhas paredes me estranham mais que eu a elas. Meus dedos são as línguas rugosas de um polvo negro. Não corro, escorro... Descobri que sólido eu não sou. Estou submarino neste mar urbano. Estou aqui, sem asas, orgulhoso como um tolo, respirando quase todos os dias. Cada uma das pedras falou pois estão cansadas do meu silêncio. Não há mais impérios, apenas cores nos mapas velhos, e overdoses de vaidades. Hoje estou só, amanhã só haverão lembranças. Pelo que sei o universo só nasceu depois de mim, e nós todos somos eternos. Nossa pátria são nossas mortes, embora a morte mesma não exista, pois apenas a existência existe, e a nossa pátria verdadeira são nossos estômagos. E amo pois muito embora você não exista (apenas o eu existe), há um alguém no eu, e um outro eu em você. Nós somos fracos. Fortes mesmo são as formigas, que mastigam o mundo em suas mandíbulinhas. Só o que temos são nossas gargalhadas, mas a risada sempre existiu, o que nós inventamos foram os motivos. Meus sonhos são a longa gargalhada de um corvo. Metamorfoseado, duvido até mesmo de meus nomes, e de cada palavra do mundo, pois duvidar é a maneira ocidental de respeitar. Meu nome, estranho em si mesmo, por ser mais símbolo que substância, é Alexei Alves de Queiroz. Pronuncio alto o meu nome, deliciando-me com seus fonemas engraçados. Repeti-o cento e quatro vezes, até ele se transformar em um sânscrito vagabundo. Até quase sentir seu relevo. Até alucinar-me fora de mim. Nada sou. Sou músico, sou cientísta? Pai, filho, irmão, estudante e professor, amigo, fugitivo, estranho, denso, hermético, feliz, gentil, frio, calmo, filósofo, sem-destino, florianopolitano. A experiência mais importante e traumática de minha vida, meu nascimento, não recordo. O que havia de memória? O que havia de entendimento? Que sentido poderia eu fazer daquele momento? Mente e corpo ainda em total descoordenação, pensamentos em total liberdade vazia. O vácuo de uma mente em branco. Se eu visse chuva caindo pra cima, elefantes voadores miando ou copos desquebrando, tudo seria tão normal quanto tudo que existe, pois tudo no mundo era igualmente absurdo.

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Eu adoro a certeza que existo
Derrubando estrelas na bala
Afastado a maré na chicotada
Sou meu melhor amigo
Ao menos concordo comigo
Sou louco, mas não sou maluco.
A consequência da consciência é a solidão.
Ai que medo! Esse poema pode não dar certo

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Se a verdade fosse algo evidente, a ciência seria supérflua, a arte seria inútil e a religião seria impossível.

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