domingo, 12 de junho de 2011

Mudra Brasil

Dando uma pausa na leitura de livros, gostaria agora de falar desse pequeno-grande episódio que aconteceu próximo a mim.

Nos dias 1 e 2 de junho deste ano, a Universidade de Brasília recebeu alguns músicos indianos que estavam visitando brasília. Além de apresentações no CCBB, eles realizaram dois "workshops" memoráveis no auditório do departamento de música. Eram integrantes da chamada "mostra mudra", e foi uma grande oportunidade, honra e responsabilidade para a nossa instituição.

A primeira foto que pus aqui foi tirada por mim no "workshop" da tablista Anuradha Pal. Sentada em tapetes, com seus dedos ligeiros sobre seu par de exóticos tambores, diante de um auditório quase cheio, ela se mostrou veloz, interessante, virtuosística, orgulhosa, dedicada, exigente e espirituosa. A música toda foi inesquecível. Senti nela, em sua fala, gestos, e música um clamor pela nossa atenção. Anuradha é uma mulher que quer ser admirada. Para isso que ela toca tão bem. Ela quer realmente fazer por merecer nossos olhares, e urge em se provar e se fazer notar.

A foto seguinte foi tirada na apresentação de Abhay Sopori, que aparece ao centro do seu grupo tocando seu incrível Santoor (instrumento originário do himalaia indiano, que lembra uma harpa, mas que é usado no colo e tocado com varetas especiais). No dia anterior ele havia apresentado o outro "workshop" na UnB. Tanto lá quanto na noite em que ele aparece nesta foto (no palco do CCBB) ele se mostrou comunicativo, agradável, informal, relaxado, muito musical e bastante jovem. Ainda mais quando disse que ele fazia parte de uma linhagem de dez gerações de músicos. Todos eles tocadores de Santoor. Isso me deixou refletindo longamente. Aquele rapaz está dando continuidade a uma linhagem de dez homens, todos de mesmo sobrenome, que tocam o mesmo instrumento, quase que do mesmo jeito. É como se tudo que ele estava fazendo ali ja estivesse escrito. Ele nunca precisou decidir que profissão ele iria seguir. Sua vida de músico ja estava traçada quando viera ao mundo. Na verdade, bem antes dele vir ao mundo. Talvez fosse por isso que ele se mostrara tão mais relaxado e tranquilo que a tablista Anuradha. Ela, ao contrário de Abhay, teve que lutar contra o destino. Em seu "workshop", Anuradha se disse a primeira mulher percussionista profissional da India. Fiquei imaginando: cada vez que ela sobe ao palco para tocar, precisa enfrentar as expectativas, enquanto Abhay tem todas as expectativas soprando ao seu favor. Isso explica muitas coisas em suas maneiras de fazer e comunicar música.


Essas duas últimas fotos foram tirada na apresentação de dança do grupo de Ananda Shankar Jayant, que ocorreu logo depois da apresentação de Abhay. Foi impressionante, sem ser circense, e muito bonito sem ser pretencioso. A presença da música ao vivo no palco por si só ja pagava a apresentação, a dança, então, pagava cem vezes.

O grupo mostrou um estilo do sul da índia. Para mim foi uma performane reveladora, direta, compreensível, simples, didática, bonita, instigante, bem organizada e bem dançada.

Minha reflexão final, inspirada no que vi e escutei, é sobre beleza.

Da beleza cultural se faz amor a um país, seja esse país o Brasil, a Índia ou qualquer outro (da apreciação vem o apreço). E do amor a todos os paises, pela contemplação de todas as suas belezas, se faz a paz.

Bendita paz.

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