quarta-feira, 15 de junho de 2011

O velho anarquista


Mikhail Bakunin foi um anarquista. Sonhava com a sociedade sem estado, sem governo e sem o domínio de qualquer homem por qualquer outro homem. Aliás, era feminista, e defensor do coneceito mais radical imaginável para a palavra "liberdade". Era um internacionalista e entusiasta da união mundial de todos os povos. Detestava hierarquia, classes sociais, leis, ordens. Detestava a ligação entre religião e poder. Detestava os reacionários e os doutrinários e os nacionalistas. Detestava as religiões que conheceu, que para ele apenas serviam para propósitos de dominação humana, mas defendia o caráter pessoal da crença mística. Não tinha nada contra a crença apoiada em opiniões próprias. O que não suportava eram os líderes religiosos, impondo suas doutrinas sobre seus seguidores. Bakunin não tolerava a manipulação de pensamento, nem qualquer tipo de ataque à autonomia da individulidade.

No livro que li, os Textos Anarquistas, pude absorver um apanhado do pensamento de um intelectual de poucos escritos. Bakunin preferia a ação. Era um agitador, que lutou ativamente por uma transformação radical da sociedade. Foi um produto das revoluções duramente reprimidas e fracassadas de 1848 e dedicou todo o resto de sua vida a tentar dar continuidade aos processos revolucionários que ele vira nascer. Não era um pacifista pois acreditava num único tipo de guerra justa: a chamada "guerra por liberdade". Não era um reformista, nem se encaixava no nosso sentido moderno de democrata, pois acreditava na necessidade de luta armada.

Em seus textos, o velho anarquista tentou esboçar uma proposta de sociedade "federalista", que era um outro nome para "anarquista". Ao contrário do que eu esperava, Bakunin não advoga realmente a aniquilação total do estado, mas um tipo de organização radicalmente autônoma e ao mesmo tempo coletivista. Sua proposta frequentemente parece entrar em contradição com muitas das frases de efeito clássicas do anarquismo (que ele também proclama), mas sua proposta tenta (bem que tenta) se apoiar em terra firme. O federalismo de Bakunin vem de Proudhon. O mais-velho-ainda anarquista-federalista francês (se é que um anarquista possui nacionalidade ou fica velho) o levou a propor uma sociedade onde cada forma de organização humana tem a capacidade de gerir a si mesma sem a interferência de organizações externas maiores. Não é a "anarquia" nem a sociedade sem governo. É tão somente a sociedade onde todos os indivíduos e todas as coletividades organizadas, são governos de si mesmos.

Não é dificil perceber porque Bakunin foi odiado por tantos governantes. O homem era um coquetel-molotov humano apontado contra todo tipo de poder. Era um homen que não aceitava nada menos que a sua utopia, e tinha que ser hoje, agora, já!

Mas hoje, olhando suas diretrizes que deixou para a "Federação Mundial dos Povos", está tudo tão claro para mim que o velho anarquista estava sendo belo, mas não estava sendo realista... realmente. Pois não percebera que na tentativa de destruir as religiões estava criando outra. O mundo era mais complexo do que ele achava e queria que fosse. Seu raciocínio não é especialmente profundo, sofisticado, abrangente e complexo, como vemos nos socialistas-científicos de sua época, ao contrário se apoia quase que somente num forte senso moral, de tudo aquilo que considera certo e bom, de liberdade, solidariedade, e espírito transformador, para conseguir fundar suas conclusões. O resultado é um texto bonito, inspirador, mas delirante. Como um Nietszche esquerdista.

Há algo de Júlio Verne neste senhor, mas também de lider religioso às avessas (o que também é um tipo de lider religioso). E sinto também algo de desespero em seu texto. O mundo o angustiava demais. Sua missão de vida era mudá-lo.

CONTINUA

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